Mera exposição

Mera exposição

por Marco Goulart

Responda rápido: quais as dez melhores ações para se investir no momento? E quais as 20 melhores? Se suas duas respostas estão repletas de papéis que compõem o Ibovespa, talvez você esteja sendo influenciado pelo efeito “mera exposição” (mere exposure, em inglês).

Em 1968, o professor da Universidade de Stanford Robert Zajonc, PhD., realizou uma série de experimentos em que pedia que pessoas ouvissem palavras que elas não conheciam, como afworbu e dilikli, e indicassem se a palavra significava algo bom ou ruim em turco. Em outro experimento, o professor pedia que as pessoas fizessem o mesmo tipo de indicação para ideogramas chineses que nunca haviam visto.

Zajonc descobriu que as respostas variavam de acordo com o tempo com que as pessoas eram expostas aos sons ou imagens. De forma surpreendente, quanto maior o tempo de exposição, maior a tendência de a pessoa achar que a palavra ou o símbolo representa algo bom.

Recentemente, experimentos realizados por neurocientistas da Universidade da Califórnia (UCLA) mostraram que existem neurônios muito específicos que são estimulados durante o reconhecimento de uma figura, imagem ou cenário. Durante o experimento, os cientistas definiram um único neurônio que funcionava quando uma imagem de um ator internacionalmente conhecido era apresentada. Aparentemente, o estímulo e existência destes “neurônios de reconhecimento” estão associados a um sentimento de bem-estar ou conforto. E o contrário também ocorre: quando não reconhecemos a imagem nos sentimos desconfortáveis.

Estes experimentos alertam para o fato de que a simples exposição contínua a algo nos faz sentir confortáveis em relação a esta coisa. O efeito “mera exposição” afeta diretamente a tomada de decisão e freqüentemente não temos a percepção de sua influência. Afinal de contas, você já parou para se perguntar por que escolhe certa marca de refrigerante em vez de outra, ou porque acha os filmes com atores conhecidos mais interessantes do que os filmes com aqueles atores que você nunca ouviu falar? A resposta pode estar no efeito mera-exposição, no fato de nos sentirmos mais confortáveis em decidir por algo que já conhecemos, mesmo que inconscientemente.

Esse efeito também atua no cérebro dos investidores. Basta perguntar a uma pessoa que recém iniciou suas aplicações na bolsa quais são as melhores opções no momento. São grandes as chances de grandes empresas aparecerem nesta lista.

Peter Lynch, investidor norte-americano de sucesso, relata no livro One Up On Wall Street que prefere investir naquelas ações que ninguém conhece. Melhor ainda se a empresa estiver em um setor monótono e possuir um nome ou código mais monótono ainda.  “Evite empresas com a letra X no código”, afirma Lynch. Qualquer semelhança com OGXP3 é mera coincidência.

O fato é que existem mais de 200 opções na Bovespa, e não dez ou 20! Pense nisso na próxima vez que abrir o Home Broker, para não ser influenciado pela mera exposição.

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