Quem parcela em 10x “sem juros” não pode ter dinheiro na bolsa

Recebi este comentário de um amigo com a provocação para escrever um artigo sobre o assunto. O amigo estava perplexo diante da decisão de uma pessoa próxima em fazer compras parceladas para consumo, ao invés de utilizar recursos que tinha em investimentos.

Não existe “sem juros”

Parte da perplexidade do amigo vem do fato de ele entender que o dinheiro possui valor no tempo, ou seja, R$1.000 hoje é diferente de R$1.000 daqui 10 meses. O valor do dinheiro no tempo, ou o seu preço, é chamado juro.

Se um comerciante diz que um produto possui um preço de R$10.000, e que pode realizar a venda deste produto em 10x sem juros, a oferta na verdade embute um juro neste preço “à vista”. Em alguns casos é ofertada uma condição de desconto na compra no PIX ou em dinheiro, por exemplo poderia pagar R$8.500 no PIX (15% de desconto).

Para saber qual o juro embutido nesta operação basta considerar o valor de R$8.500 como um pagamento à vista e compará-lo com 10 parcelas de R$1.000. A resposta é que o juro embutido na operação é de 3,07% ao mês ou 43,74% ao ano. Não vão entrar no detalhe do cálculo matemático, mas ao final deste artigo deixo o link do meu curso gratuito de matemática financeira onde mostro esta conta no detalhe.

É preciso ressaltar que o comerciante embute nesse juro todo o risco e custo da operação. Existe a possibilidade de o comerciante não receber as parcelas acordadas e existem custos para fazer essa operação (como custos da operadora de cartão). Na prática a inadimplência e custos acabam sendo “socializados” na taxa de juro cobrada.

Falha no planejamento e falta de conhecimento

Mas porque uma pessoa aceitaria pagar 43% de juros ao ano ao invés de utilizar outra fonte de recursos para comprar à vista e com desconto de 15%?

Uma possibilidade é que esta pessoa não tenha se organizado para a aquisição do produto (ausência ou falta de planejamento), o que é muito comum. Também pode ter ocorrido um imprevisto que estourou o seu planejamento (o que poderia ser amenizado com a formação de uma reserva para emergências adequada).

A falta de conhecimento de alternativas, ação por impulso e praticidade também podem empurrar uma pessoa para esta decisão. Talvez exista alternativa de crédito mais barato em alguma instituição financeira, mas isso exigiria pesquisa e não seria possível adquirir o produto no momento desejado.

Mas segundo informado pelo meu amigo essa pessoa tinha o recurso investido em ações de empresas negociadas na bolsa de valores. Aqui entra um problema de planejamento novamente: se havia expectativa de uso do recurso no curto prazo, este recurso não poderia ser destinado para investimentos de longo prazo e alto risco.

Os investimentos em ações são cíclicos e sofrem interferência das condições da economia, então talvez não seja um bom momento para resgatar os recursos para adquirir o produto desejado. Ou talvez seja um bom momento (as ações tenham se valorizado) mas ao realizar o resgate dos investimentos haverá cobrança de impostos. Podem ser feitas algumas contas para se chegar a uma decisão mais racional nestes casos, mas mesmo em um mercado de alto risco e retorno, como o de ações, dificilmente se encontram alternativas com rentabilidade de 43% (juro cobrado no exemplo anterior).

Contabilidade mental

Parece que racionalmente não faz sentido a opção pelo “10x sem juros”, mas porque tantas pessoas fazem essa opção mesmo tendo recurso disponível para a aquisição à vista e com desconto?

Em situações de stress ou desejo costumamos tomar decisões de forma impulsiva. Os economistas comportamentais consideram que é como se houvesse um bloqueio do processamento lento e racional do cérebro, que para não ficar “sem resposta” realiza um processamento rápido e automático. Esse processamento automático pode se basear em padrões ou atalhos que facilitam as decisões no dia a dia (forma de lidarmos com emoções). Um desses atalhos é chamado pelos pesquisadores de “contabilidade mental”.

Na “contabilidade mental” nós separamos nosso patrimônio em partes, e então tomamos decisões de forma individual para cada parte. Essas decisões não fariam sentido se olhássemos o patrimônio como um todo (como no caso de fazer uma dívida com juro alto tendo o recurso disponível em investimento).

Imagine um exemplo semelhante onde existe uma reserva para educação dos filhos, mas ao mesmo tempo surge uma necessidade financeira, o que fazer? Contrair uma dívida com juro de 43% ao ano e manter a reserva intocada, ou utilizar o recurso da reserva?

A contabilidade mental pode ser uma armadilha, como no exemplo anterior, mas também pode ser utilizada em favor do investidor. Ao dividir os investimentos em compartimentos de objetivos que tem prazos diferentes, por exemplo, estamos usando a contabilidade mental para nos ajudar a lidar com o risco dos investimentos.

Para um objetivo de longo prazo faz sentido investir uma parcela maior dos recursos em bolsa de valores, onde há uma relação entre risco e retorno maior (sobe e desce). Sabendo que o recurso está no “compartimento” de longo prazo ficamos mais tranquilos com o sobe e desce.

Existe outra possibilidade para esta pessoa? (crédito colateralizado)

As instituições financeiras oferecem soluções de crédito colateralizado que podem ser interessantes em situações como a do nosso exemplo. O crédito colateralizado é uma alternativa de tomar dinheiro emprestado dando algo como garantia.

Suponha o caso de um médico ou dentista que queira reformar seu consultório e tenha aplicações em renda fixa (Ex. CDB, LCI, LCA, LF) com vencimento em 3 anos. Esta pessoa poderia fazer o resgate dos seus títulos, mas provavelmente só conseguiria fazer isso oferecendo um desconto para vender os títulos no mercado. Uma alternativa seria tomar um empréstimo e deixar esses títulos como garantia. É possível fazer uma conta e verificar qual a melhor alternativa: o crédito ou resgatar os títulos.

Para mais complexidade, mais conhecimento e qualificação

Nota-se que existem muitas alternativas e potenciais armadilhas. Em uma recente pesquisa a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicou que um dos principais problemas mundiais relacionados às finanças pessoais é o aumento da complexidade de produtos e serviços financeiros. Como lidar com isso?

O planejador financeiro CFP® é o profissional habilitado para auxiliar em seis grandes áreas fundamentais para o sucesso financeiro:

  1. Facilitar o seu controle financeiro no dia a dia, gestão financeira;
  2. Cuidar para que seus investimentos estejam alinhados com suas necessidades, gestão de ativos;
  3. Oferecer segurança para sua família diante de imprevistos, gestão de riscos e seguros;
  4. Diminuir gastos com tributos, planejamento tributário;
  5. Promover um plano para você se preparar para a melhor idade, planejamento de aposentadoria;
  6. Transmitir o seu legado com paz e segurança, planejamento sucessório.

Um processo de certificação exigente possibilita que o profissional CFP® tenha uma visão integrada de diferentes assuntos financeiros, entendendo a complexidade inerente a cada um dos temas. O planejador financeiro pode, por exemplo, analisar soluções relacionadas a crédito. O profissional independente (fora das grandes instituições) pode oferecer soluções que melhor atendam ao cliente, sem conflito de interesses.

Estes são os nossos princípios: transparência, alinhamento de interesses, conhecimento e qualificação, e relacionamento que gera valor no longo prazo. Está precisando de ajuda? Entre em contato.

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2 respostas

    1. Olá João, agradeço sua visita e comentário. De fato não é possível generalizar a situação, é somente uma provocação.
      Na blackfriday foi mais comum encontrar descontos maiores para pagamentos à vista com PIX, por exemplo.
      Grande abraço!

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