Investidores de sucesso: Peter Lynch (3)

Investidores de sucesso: Peter Lynch (3)

por Marco Goulart

 

Este artigo apresenta um resumo das idéias de Peter Lynch em One Up On Wall Strett, e procura relacionar estas idéias com casos brasileiros. Esta é a terceira parte de uma série de três artigos. Neste artigo falaremos sobre quando vender uma ação e alguns conceitos equivocados que muitos investidores possuem.

Muitas pessoas acreditam e esperam por altos retornos no mercado de ações. Não é raro encontrarmos investidores com expectativas de obter retornos superiores a 30% ao ano. Lynch lembra que nem mesmo os grandes barões do século XX conseguiram garantir uma taxa de retorno de 30% ao ano por um longo período.

“O que há de errado com grandes expectativas? Se você espera obter um retorno de 30% ano após ano, é mais provável que você se frustre com as ações que não atinjam as expectativas, e a sua própria impaciência pode causar o abandono dos investimentos justamente no pior momento. Ou pior, você pode buscar riscos desnecessários na busca por retornos ilusórios.” Lynch acredita que somente permanecendo com uma estratégia de longo prazo, em momentos bons ou ruins, é possível maximizar os retornos.

Se 25% ou 30% de retorno não é algo realista, então o que é? Certamente você deve buscar algo melhor do que a renda fixa. Se você checar o seu retorno no longo prazo e descobrir que esta perdendo para a renda fixa então sua técnica é um fracasso. Buscar as suas próprias ações vale o esforço se você consegue obter um retorno superior a renda fixa e principalmente ao índice de mercado (ex: Ibovespa).

Um fator que pode influenciar no retorno do investidor é a quantidade de ações que o mesmo possui. Este tema sempre foi uma incógnita para os investidores. Lynch chegou a possuir 1400 ações (cerca de 1/3 das ações negociadas na bolsa de NY na época). “Existe um grande debate entre dois investidores muito conceituados: Gerald Loeb diz “ponha todos os ovos na mesma cesta”, e Andrew Tobias diz “não ponha todos os ovos na mesma cesta”.”

Vale lembrar que o número de empresas com ações negociadas nos EUA é muito maior que no Brasil, onde existem cerca de 400 empresas de capital aberto.

Para Lynch o melhor é possuir tantas ações como há situações em que: (a) você tem uma vantagem de informação; (b) você descobriu uma empresa interessante que passa em todos os critérios de boas empresas; Talvez seja apenas uma ação, talvez seja uma dúzia, talvez você se especialize em turnarounds ou asset play e compre algumas destas. “Diversificar por diversificar não é uma decisão inteligente, não faz sentido possuir uma serie de empresas que você não conhece.” (Lynch)

Não é seguro possuir apenas uma ação, porque apesar de todos os seus esforços, a empresa que você escolheu pode sofrer de algo totalmente inesperado, como um desastre natural. Em pequenos portfolios, Lynch se sente confortável possuindo entre 3 e 10 ações.

Lynch destaca vários benefícios na diversificação: se você esta analisando/buscando teenbaggers, quanto mais ações você possuir mais chances há de que uma delas seja de fato a teenbagger; quanto mais ações você possui, mais flexibilidade você tem para girar seus recursos entre estas ações.

Esta é uma parte importante da estratégia de Lynch. Algumas pessoas atribuem o sucesso de Lynch a especialização em empresas de crescimento, mas esta não é toda a verdade, Lynch nunca investiu mais que 30-40% dos recursos do Fidelity em empresas de crescimento. O restante dos recursos Lynch diversificava entre as outras categorias de empresas (as 6 categorias). Normalmente Lynch mantinha entre 10-20% em stalwarts, outros 10-20% em empresas cíclicas, e o restante em turnarounds. Com cerca de 1400 ações em carteira, Lynch investia metade dos recursos em 100 ações, dois terços em 200 ações, e 1% dos recursos em outras 500 empresas secundarias que monitorava periodicamente, com a possibilidade de aumentar a posição no futuro. “Estou buscando valor constantemente, mudando de uma categoria de empresas para outra de acordo com as oportunidades.” (Lynch)

“Acredito que uma boa estratégia é girar os recursos entre as ações de acordo com a evolução do preço em relação ao “caso” que você formulou. Por exemplo, se uma stalwart tem uma valorização de suas ações em 40% – que é tudo que eu espero de uma empresa deste tipo – e não há nada de diferente em relação a empresa que me faça pensar que boas surpresas estão por vir, eu vendo as ações e substituo por outra stalwart que eu ache interessante e que ainda não tenha se valorizado.” Girando com sucesso as ações Lynch acredita que é possível obter os mesmos resultados que seriam obtidos com uma única ação vencedora, porém com menos riscos.

Quedas nos preços de uma boa ação só se tornam uma tragédia se você vender a preços baixos e nunca mais comprar. Para Lynch “se você se convencer de que “Quando o mercado cair 25% eu sou um comprador” e banir totalmente o pensamento fatal “Quando o mercado cair 25% eu sou um vendedor” então você conseguirá ter bons retornos no mercado”.

 

Resumo de critérios para venda de uma ação (recomendo leitura integral do capítulo When to really sell):

Quando vender uma slow grower

A empresa perdeu market share por dois anos consecutivos e esta contratando uma nova empresa de publicidade Nenhum novo produto foi desenvolvido, e a empresa parece estar “adormecida em berço esplendido”. Duas novas aquisições de negócios não relacionados ao negócio principal da empresa

Quando vender uma stalwart

A empresa tem um P/L em torno de 15, enquanto outras empresas do mesmo tipo tem um P/L em torno de 10. Nenhum diretor da empresa comprou ações no ultimo ano. As taxas de crescimento dos lucros estão caindo, ou a empresa vem mantendo as taxas de crescimento somente com corte de custos.

Quando vender uma empresa cíclica

A demanda final pelo produto esta caindo. A companhia tenta cortar custos mas não pode competir com produtores em outros paises.

Quando vender uma fast grower

Executivos do topo da empresa e funcionários chave deixaram a empresa para se juntar a uma empresa rival. A ação esta sendo negociada com um P/L de 30, enquanto as projeções mais otimistas de crescimento dos lucros são de 15-20% para os próximos 2 anos.

Quando vender uma turnaround

Dividas que estavam caindo nos últimos 4 trimestres voltaram a subir. Estoques estão subindo ao dobro da velocidade que as vendas. O P/L esta inflado em relação as projeções de crescimento dos lucros.

Quando vender uma asset play

A divisão ou terreno que iria ser vendida por 20 milhões, foi vendida por 12 milhões.

 

Lynch destaca uma série de conceitos falsos que as pessoas costumam ter sobre ações. “Eu fico constantemente chocado com as explicações que as pessoas dão para os movimentos das ações. Houveram grandes avanços eliminando conceitos errados que existiam na medicina e na previsão do tempo. No entanto, ainda nos sentimos a vontade em acreditar que o time que vence o SuperBowl pode ter alguma relação com o preço das ações.” (Nos Estados Unidos este tipo de comparação se tornou algo popular, com uma série de estudos que procuram comprovar esta relação)

Quando Peter Lynch saiu de sua graduação para um período de trabalho de verão na Fidelity se deu conta que até mesmo o mais inteligente professor de finanças pode estar errado sobre ações. A partir de então Lynch ouviu uma serie de teorias, que considerava pouco factíveis, e que acabaram sendo amplamente aceitas pelo mercado. Lynch destaca 12 mitos ou equívocos do mercado, alguns deles são:

 

A ação já caiu este tanto até agora, não pode cair mais.

Não ignore a possibilidade de a ação chegar a 0 (falência).

No Brasil, quando as ações da Agrenco chegaram a ser cotadas a R$1 muitas pessoas consideraram que não poderia cair mais, afinal de contas, o que estava sendo vendido por mais de R$10 por ação agora estava sendo vendido por R$1!.

Você sempre pode dizer quando uma ação atinge o “fundo do poço”

Tentar prever o fundo do poço é algo perigoso, concentre-se na sua avaliação da empresa e cheque se o “caso” esta acontecendo conforme esperado.

Se já subiu tudo isso, como pode continuar subindo?

Uma ação pode, no máximo, desvalorizar 100%, mas a valorização não tem limites. As ações da Pettenati dispararam em 2006, saindo de uma cotação de R$ 1,40 para R$ 14 por ação em 2007.

É só R$ 3 por ação: O que eu posso perder?

Vide caso da Agrenco.

Eventualmente, a ação sempre retornará.

Agrenco mais uma vez!

Quando voltar a R$10 eu vendo

Se a empresa não atende mais seus critérios, não há motivo para permanecer com ela. Não espere chegar a uma determinada cotação para vender.

Ações conservadoras não oscilam muito

Grandes bancos como Bradesco e Itaú também sofreram grandes oscilações em momentos de incerteza.

Olhe o quanto eu poderia ter ganho… Eu não comprei esta ação…

Comparar o próprio desempenho com o desempenho de colegas ou gestores profissionais, ou imaginar o quanto perdeu por não comprar ações de determinada empresa, pode trazer grandes prejuízos ao investidor. Um investidor centrado no desempenho de outros investidores tende a distorcer a realidade e tomar decisões equivocadas.

Eu perdi essa, mas vou entrar na próxima!

Por algum tempo entrar em IPOs foi um ótimo negócio para especuladores no Brasil, porém, a medida que os IPOs se tornaram mais comuns, este tipo de especulação deixou de trazer resultados extraordinários. Atualmente grande parte das empresas que fizeram IPOs tem suas ações negociadas a preços inferiores a oferta pública inicial.

As ações subiram, eu tomei a decisão certa. As ações caíram, eu tomei a decisão errada.

O investidor não deve avaliar seu acerto ou erro de acordo com o preço da ação. Você pode estar certo e a ação cair, ou pode estar errado e a ação subir. Você esta certo se o “caso” que você visualizou realmente aconteceu, e errado quando isso não aconteceu.

 

Para finalizar esta série de artigos quero enfatizar que a leitura do livro é um bom investimento pois traz inúmeros exemplos e conceitos/idéias que poucos investidores conhecem.

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