Alfabetização financeira no Brasil

Alfabetização financeira no Brasil

por Marco Goulart

 

De acordo com informações da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA, 2017) cerca de 50% do PIB nacional está aplicado em fundos de investimento financeiro. Embora seja um dado isolado, oferece uma ideia sobre a abrangência do mercado financeiro, e mostra como o cidadão brasileiro é confrontado com a demanda por conhecimento financeiro.

O termo alfabetização financeira é utilizado pela comunidade acadêmica para designar o “nível financeiro” de um indivíduo. Em geral a alfabetização financeira envolve três dimensões: (1) Atitude: como o indivíduo enxerga a sua relação com o dinheiro; (2) Conhecimento: entendimento de conceitos financeiros; (3) Comportamento: as ações que o indivíduo toma no dia a dia (por exemplo, se gasta mais do que ganha, se guarda dinheiro, se planeja o futuro). Aqueles que não atingem uma pontuação mínima em um questionário com uma série de perguntas sobre essas dimensões são considerados “analfabetos financeiros”.

Dados de pesquisas realizadas por grandes instituições nacionais como IBOPE, Serasa, SPC, CNDL; e internacionais: Banco Mundial, OCDE; mostram a situação do brasileiro em relação a alfabetização financeira.

Em uma escala de 0 a 10, aqueles que tem ensino superior completo atingiram uma nota de 6,3 em alfabetização financeira. Aqueles que não completaram o ensino fundamental tem uma nota 5,8. Dentre as três dimensões, aquela que apresenta maior diferença de acordo com o grau de instrução é o conhecimento (entendimento de conceitos financeiros). E a que apresenta menor diferença é o comportamento. A diferença nas notas de comportamento entre aqueles que não completam o ensino fundamental e aqueles que completam o ensino superior é de 0,1. A média geral para essa dimensão é 5,1. Em outras palavras, mesmo aqueles que “sabem mais” (ou acham que sabem) não praticam no seu dia a dia aquilo que sabem.  (Serasa e IBOPE, 2014)

Em 2014, talvez no auge da crise econômica, uma pesquisa realizada nas principais cidades do país apontou que 30% das pessoas entrevistadas haviam comprado algum bem supérfluo que fez com que excedessem o seu limite financeiro. 36% compraram produtos como roupas, calçados, eletrônicos e eletrodomésticos, mesmo sem poder. 40% dos que possuem cartão de crédito haviam deixado de pagar a fatura integralmente no último ano. 81% declararam que sabiam pouco ou nada sobre suas finanças. 55% declararam que em caso de um imprevisto como perda de emprego não teriam uma reserva suficiente para se manter por no mínimo três meses. (SPC Brasil, 2014)

Quando o assunto é poupança os números apresentados no país também são preocupantes. Somente 3,64% da população declara ter realizado reserva para aposentadoria. 28% da população declara ter realizado alguma poupança nos últimos 12 meses. Na Tailândia, país com uma renda por habitante semelhante à nossa, estes números são de 60% e 80%, respectivamente. Quando o assunto é aposentadoria e poupança temos o 14º pior índice do mundo. (PINTO, 2017)

Estas informações revelam a importância que o tema alfabetização financeira possui em nosso país. Não obstante este grave cenário, as iniciativas públicas ainda são incipientes. Após assinar um termo de compromisso com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2010, através do Decreto 7.397, o governo federal criou a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), da qual participam diversas instituições de todos os setores da sociedade. A finalidade desta política de Estado é: (a) fortalecer a cidadania; (b) aumentar a eficiência e solidez do sistema financeiro; (c) promover a tomada de decisões financeiras conscientes e autônomas; (d) disseminar a educação financeira e previdenciária.

Em 2013 foram registradas 813 iniciativas de educação financeira, como cursos, palestras, entre outros. No ensino médio e fundamental foram implantados projetos piloto, inicialmente em 891 escolas do ensino médio, e a partir de 2015 também em escolas do ensino fundamental. Foram criados materiais didáticos e princípios pedagógicos específicos sobre finanças pessoais para crianças.

Há uma longa estrada para o desenvolvimento da alfabetização financeira no país, os primeiros passos estão sendo dados e esperamos que os benefícios sejam colhidos no futuro.

 

Referências:

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS ENTIDADES DOS MERCADOS FINANCEIRO E DE CAPITAIS. Consolidado diário de fundos. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://www.anbima.com.br/pt_br/informar/estatisticas/fundos-de-investimento/fi-consolidado-diario.htm>.

SERASA E IBOPE. Indicador de Educação Financeira – IndEF. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://serasaconsumidor.com.br/indef/>.

SPC BRASIL. Pesquisa de Educação Financeira. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://meubolsofeliz.com.br/wp-content/uploads/2014/01/analise_spc_brasil_pesquisa_educacao_financeira_2014_vf1.pdf>.

PINTO, A. E. DE S. Maioria dos brasileiros não tem reserva para emergência. Folha de São Paulo, 2017.

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